Encontro virtual promovido pela TFA (Tropical Forest Alliance) na última quinta-feira (27), reuniu representantes de todos os atores envolvidos na produção e comercialização de carne bovina – empresas exportadoras e importadoras, bancos financiadores, ONGs e autoridades governamentais – do Brasil e da China, para a discussão da pecuária sustentável e responsável nas regiões do cerrado e da Amazônia brasileira.
A conversa binacional revelou congruência em torno das ações de combate ao desmatamento ilegal e de fortalecimento dos mecanismos de rastreabilidade da cadeia como pontos de partida para a modernização da pecuária brasileira e a consequente garantia de segurança jurídica, ambiental e sanitária, fatores cada vez mais essenciais para a continuidade e o crescimento das exportações de carne bovina para o mercado chinês.
A estratégia da TFA se baseia no incentivo ao diálogo entre produtores e compradores de carne bovina para o co-desenvolvimento de uma agenda positiva que alie parâmetros de sustentabilidade – entre eles o não desmatamento -, com segurança alimentar e aumento da produtividade, visando a construção de novas oportunidades de negócios para investidores de ambos os países, bem como de todo o mundo.
“A discussão foi muito rica e apontou para o consenso de que, do lado brasileiro, a regularização ambiental, que consiste na implementação do Código Florestal, precisa estar alinhada com a política de vigilância sanitária e com o processo de regularização fundiária”, comentou Fabíola Zerbini, Diretora Regional da TFA para a América Latina.
“A vinculação dessas políticas cria as condições para o fortalecimento das relações comerciais entre ambos os países, impulsionando um projeto de modernização da pecuária brasileira. Este é o cenário cada vez mais valorizado pelos investidores internacionais e é também o que irá conferir credibilidade para o produto brasileiro e como consequência, segurança para o comprador chinês”.
“O agronegócio representa 20% do nosso PIB, quase metade das exportações e 20% dos empregos no país. A pecuária, por sua vez, responde por 8,5% do PIB, com China e Hong Kong representando 34% de todo o volume de exportação brasileira de carne bovina”, afirmou Marcos Jank, pesquisador, professor e coordenador do Insper Agro Global. “Mas temos uma série de desafios a endereçar no contexto de um projeto de modernização da pecuária impulsionado pela demanda chinesa. Um programa público-privado que contemple os pequenos e médios produtores e frigoríficos que atendem ao mercado nacional precisa ser inserido nessa perspectiva, de forma a evitar uma maior segregação entre os atores da cadeia, e os impactos negativos sociais e ambientais que dela podem advir indiretamente. Temos que elaborar e implementar uma visão estratégica de longo prazo”.
As exportações brasileiras de carne aumentaram dez vezes nos últimos vinte anos, apesar da carne bovina representar hoje uma parcela relativamente pequena na dieta chinesa. Mas como afirmou no Diálogo TFA o Professor Zhang Jianping, da CAITEC – Chinese Academy of International Trade and Economic Cooperation, órgão do Ministério do Comércio da China -, o padrão de consumo do chinês está mudando: cada vez mais, o consumidor daquele país, incentivado também pela pandemia da Covid-19, tem preparado seu alimento em casa, dando preferência à proteína sanitariamente confiável e aumentando a sua percepção sobre a importância da sustentabilidade da natureza associada aos seus hábitos de consumo.
De acordo com Fabíola Zerbini, o Diálogo entre os dois países deixou claro que há um consenso mínimo entre os atores de ambos os países em torno da consolidação de um mercado que alie sustentabilidade e saúde para a carne, mas para tanto “a rastreabilidade ambiental deve se dar de forma aliada à sanitária, porque o mercado consumidor chinês vai exigir, sobretudo no pós-Covid-19, um produto de maior qualidade e transparência.
Há também que se investir numa dinâmica mais inteligente e robusta de investimento. O investidor vê uma oportunidade na modernização, a se garantir a partir de uma combinação de mecanismos e fontes, tanto público quanto privados, de ambos os países.
O Diálogo evidenciou ainda que um futuro positivo para as relações comerciais entre Brasil e China é possível, mas temos também que trazer essa discussão para a Europa, para a América e para o mercado nacional, demonstrando que o entendimento de que o desmatamento deve ser contido é um caminho sem volta, e factível mesmo com a necessidade de ampliação da produção de alimentos”.
(*) Com informações da TFA
Fonte: Comex do Brasil